Por Maria Helena Esteban @mariahelenaesteban. Fotos Frederico de Souza Filico @fredericodesouza.filico. Copyright Fato Editorial
O feijão, símbolo da alimentação nacional, e os preparos caseiros, bordados na memória, foram os ingredientes que transformaram a trajetória de Kátia (@barbosakatia) em um sucesso. Sua relação com a cozinha aconteceu meio que por acaso ¬ como é comum com tantos empreendedores nesse país ¬ ao ir ao socorro do irmão que montara um bar na região da Praça da Bandeira. Lá se vão 20 anos.
Das panelas saiam preparos de nossa tradição culinária e Kátia teve o lampejo de transformar um sabor de infância (a comida de montinho, aquela mistura de feijão, farinha e algo mais, amassada no prato para se comer com as mãos, tão raiz e popular Brasil afora) em algo para ser apreciado em um bar: o Aconchego Carioca (@aconchegocariocarj).
O feijão, símbolo da alimentação nacional, e os preparos caseiros, bordados na memória, foram os ingredientes que transformaram a trajetória de Kátia em um sucesso.
Foto: Filico.
Após meses e meses de tentativa e erro, nascia o Bolinho de Feijoada… E surgia na cidade uma cozinheira esfuziante, persistente e forte que passou a defender a comida brasileira. Hoje, entre outras empreitadas, ela está no time de apresentadores de Mestre do Sabor @mestredosabor, na TV Globo, e segue se entusiasmando com propostas que valorizem o papel social da Gastronomia.
Olhando em perspectiva para sua trajetória na Gastronomia, qual foi o momento mais marcante?
Na verdade, a Gastronomia me proporcionou grandes momentos como conhecer e conviver com o Pierre Troisgros ¬ que sempre foi um ídolo para mim ¬ e falar sobre a minha trajetória de vida no MAD*. Mas ser convidada a participar do Mestre do Sabor foi muito marcante!
*Simpósio mundial de gastronomia, realizado na Dinamarca, em 2014.
Como e quando você se descobriu como uma profissional da cozinha? E como você gosta de se intitular?
Eu comecei a trabalhar com Gastronomia por necessidade e, como era de se esperar, me apaixonei pela comida brasileira, não só porque faz parte da nossa história, mas pela quantidade de ingredientes que temos à nossa disposição e a diversidade das culturas dentro de um só território.
Nunca curti ser chamada de chef, talvez porque o título aqui no Brasil tenha tomado proporções um tanto equivocadas. Ou talvez porque não me sinta no nível de verdadeiros e grandes chefs do nosso país. De fato, chefio uma equipe, mas me sinto uma cozinheira que ainda tem muito a aprender.
O sucesso do Bolinho de Feijoada me parece simples: colocar entre dois dedos… o prato mais popular dos brasileiros.
Você sabe explicar o motivo do sucesso do Bolinho de Feijoada? Por que o público gostou tanto, a ponto de virar uma receita copiada e recriada?
O sucesso do Bolinho de Feijoada me parece simples: colocar entre dois dedos o prazer de comer, em poucas mordidas, o prato mais popular dos brasileiros.
Quais foram suas referências culinárias e como você fez e faz para ir montando seu repertório?
Minhas referências sempre foram a comida de casa, nordestina e simples, porém muito criativa. As mães e donas de casa pobres precisavam e ainda precisam de muita criatividade pra colocar comida na mesa. Depois fui estudando os grandes chefs e percebendo que eles valorizavam muito nossos ingredientes.
Com a estreia de Mestre do Sabor, você se tornou apresentadora de um reality de culinária de um canal de grande audiência, como a TV Globo. O que mudou em sua vida e carreira?
Obviamente que estar na tevê aberta e principalmente na TV Globo tem um peso bem grande, e ter o trabalho reconhecido é fantástico. Tento seguir com a vida e o trabalho naturalmente, continuo cuidando dos meus negócios diretamente. Mas obviamente hoje tenho muitos compromissos profissionais e às vezes preciso me ausentar.
Hoje Kátia Barbosa é uma marca. Quais produtos e serviços levam a sua assinatura?
Eu tenho o Aconchego Carioca (@aconchegocariocarj), que é a minha primeira casa, o meu filho mais velho, e agora eu criei o Katita (@chefkatiabarbosa), que é o jeito que as pessoas de fato me chamam. No Katita me sinto livre para fazer o que eu tenho vontade, trazendo o meu olhar para as coisas que vou comendo no Brasil e no mundo, obviamente com aquele olhar brasuca.
Também fiz algumas consultorias recentes, como o Bar da Alcione (@bardaalcione), na Barra, onde procurei colocar alguns pratos que falassem da origem da cantora. Mas o meu projeto mais apaixonante é o que faz comida brasileira embalada a vácuo, congelada ou resfriada, para ser finalizada em casa.
No Katita me sinto livre para fazer o que eu tenho vontade, trazendo o meu olhar para as coisas que vou comendo no Brasil e no mundo, obviamente com aquele olhar brasuca.
Chef Kátia Barbosa. Foto: Filico
Inclua nessa linha a famosa Pimenta do Aconchego; Molho de Goiabada; Geleia de Pimenta; Baião de Dois; Bobó de Camarão e muitos, muitos bolinhos que chegam na casa do cliente pré-fritos, somente para aquecer, ou congelados, para ter sempre à mão e fritar quando quiser.
Você se tornou um nome de referência quando o tema é cozinha brasileira. Isso a motiva e envolve em projetos que vão além de sua cozinha? Como e quais?
Eu sempre estou envolvida em algum projeto que envolva a comida brasileira, porque entendo que a comida fala muito sobre quem somos, sobre a cultura de um povo. Agora, ainda temos algumas lutas grandes, uma delas é fazer com que a comida seja entendida como cultura no nosso país.
Também precisamos pensar em como alimentar tantos desempregados e famintos, por que como falar de cultura gastronômica quando milhares de brasileiros têm fome?
Também trabalho com a Gastromotiva (@gastromotiva), que faz exatamente esse trabalho, de cuidar dos que têm fome. Recentemente fui convidada a desenvolver receitas com os produtos de uma casa de farinha quilombola e é óbvio que já topei!
Em um momento em que vivemos mudanças aceleradas, em todas as áreas, como você vê ou imagina que será, em um futuro bem próximo, a nossa relação com a cozinha e com os restaurantes?
O futuro bem próximo, na verdade, já chegou! A relação entre consumidores e restaurantes já mudou radicalmente e o brasileiro tem um poder de adaptação absurdo. Mas, apesar dessa nova ordem, o sair para jantar ainda é e será um programa. Somos calorosos e precisamos de gente. Na verdade, descobrimos que cozinhar também é uma grande experiência, então o que concluímos de fato é que o mercado pode e deve ser melhor explorado.
O que é uma boa comida em sua opinião?
A melhor comida é a que fica na memória e sempre que provamos algo parecido nos leva de volta àquele momento especial. A comida tem esse poder, né?! De nos levar de volta a lugares e momentos teoricamente esquecidos ou guardados em cantinho da memória.
Confira o vídeo da entrevista e conheça mais a chef Kátia Barbosa: