Por Maria Helena Esteban @mariahelenaesteban. Copyright Fato Editorial.
Ronimara Santos é mestre em Nutrição e pesquisadora doutoranda em Alimentação, Nutrição e Saúde da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), onde também é professora. Como profissional focada em saúde alimentar, ela conhece bem a importância das primeiras refeições na vida de cada um de nós.
Nesta conversa descontraída, a nutricionista passa ótimas orientações que podem melhorar não somente a alimentação das crianças, mas também de todos os que convivem com elas.
Ronimara Santos é mestre em Nutrição e pesquisadora doutoranda em Alimentação , Nutrição e Saúde na UERJ.
Crédito da imagem: Filico.
A infância é composta de diferentes fases. Há uma necessidade alimentar para cada uma delas?
Cada fase da vida requer uma recomendação nutricional específica em nutrientes e energia. Em linhas gerais, como as crianças estão em fase de crescimento, alguns minerais como cálcio e ferro e vitaminas do Complexo B são fundamentais e requerem mais atenção.
Eles estão presentes em leites e derivados, carnes, feijões e vegetais verde-escuros. Além disso, a oferta de proteínas, carboidratos e gorduras (sim, a criança precisa de gordura para crescer, então, não há por que oferecer leite desnatado, por exemplo) deve ser avaliada individualmente.
Minerais como cálcio e ferro e vitaminas do Complexo B são fundamentais.
Como garantir os nutrientes necessários?
Para garantir a oferta de vitaminas e minerais, os pais devem ficar atentos à oferta de uma boa variedade de alimentos frescos (frutas, verduras e legumes). As proteínas podem ser encontradas em leites e derivados, feijões, carnes e ovos. Já os carboidratos estão presentes em frutas, raízes e tubérculos como aipim, batata e inhame. As gorduras encontramos em oleaginosas (nozes, amendoim, castanhas) e nos alimentos de origem animal como leites, derivados e carnes.
Veja, ainda neste artigo, o infográfico abaixo sobre alimentação saudável.
Em linhas gerais, o que vai ditar se as necessidades da criança estão sendo cumpridas é o acompanhamento do peso, altura, e IMC (Índice de Massa Corporal) por idade. Esse acompanhamento é feito através das curvas de crescimento da OMS, que geralmente são oferecidas na caderneta de acompanhamento da criança. O desenvolvimento cognitivo também pode ser avaliado pelos pais e médicos que a acompanham.
Olhando a vida em perspectiva, qual a importância da alimentação infantil para a vida adulta?
Eu certamente destacaria duas consequências importantíssimas. Nos primeiros anos de vida, a variedade e a forma com que os alimentos são oferecidos influenciam a formação do paladar e a relação da criança com a comida, pois é na infância que ela vai descobrir os alimentos.
A variedade e a forma com que os alimentos são oferecidos influenciam a formação do paladar e a relação da criança com a comida.
Nessa fase, ela vai construir o hábito alimentar que levará para a vida adulta. Depois, a criança e o adolescente passam por uma fase de crescimento, onde as células que acumulam gordura (os adipócitos) se multiplicam. Por isso, a alimentação inadequada e o ganho de peso nessas fases da vida, trazem consequências para a vida adulta.
Ademais, essa criança e adolescente que ganha muito peso provavelmente será um adulto com mais predisposição à obesidade. É interessante notar que esses dois pontos estão intimamente conectados: o hábito da criança comer mal, ser muito seletiva e ganhar peso reflete em um adulto com paladar monótono e com predisposição ao ganho de peso. Reverter isso é um trabalho delicado.
Quais são as recomendações básicas para a primeira infância?
Com a chegada da criança, é comum surgirem dúvidas como o que oferecer, com qual frequência, quais alimentos ela pode comer. A partir de seis meses, além do leite materno, outros alimentos devem fazer parte das refeições da criança. É claro que cada criança é única, mas a introdução alimentar tem bases importantes.
Poderia dar alguns exemplos?
Primeiramente, é importante entender que a alimentação da criança (e do adulto, né?) deve ter como base os alimentos in natura ou minimamente processados. Exemplos:
- leguminosas;
- cereais;
- raízes e tubérculos;
- legumes e verduras;
- frutas;
- carnes e ovos;
- leites;
- oleaginosas;
- cogumelos;
- sementes como linhaça, gergelim e chia.
Cada um desses alimentos será oferecido individualmente e em um momento específico, levando em consideração o desenvolvimento da criança, a tolerância e o histórico de alergias da família. Aqueles alimentos ultraprocessados como biscoitos, salsicha, iogurtes saborizados artificialmente, bisnaguinha, batatinhas, bebidas adoçadas, balas, doces, salgadinhos, não devem ser oferecidos à criança e devem ser igualmente evitados pelos adultos. Adoçantes também não são recomendados.
E quais são as melhores atitudes, na hora da refeição?
Preparar um ambiente confortável e respeitar o tempo e os sinais de fome e saciedade de cada criança. Não forçar a alimentação.
Geralmente, tomamos como base a quantidade de comida de um adulto e forçamos para que a criança coma “mais um aviãozinho, filho”. Isso confunde os sinais de saciedade dela. Elas sabem quando estão satisfeitas. Incentive, portanto, a autonomia da criança, deixando que, quando ela consiga, participe da escolha dos alimentos entre opções saudáveis oferecidas a ela, que ela experimente o mesmo alimento em diferentes texturas; que tente comer sozinha; e principalmente, que coma a mesma comida da família.
Atitudes ideais na hora da alimentação: preparar um ambiente confortável e respeitar o tempo e os sinais de fome e saciedade de cada criança.
Como os exemplos dos pais influencia?
É muito comum que a casa coma mal, mas faça a comida da criança separada. Logo, logo, ela vai perceber e vai querer aquilo que os pais estão comendo, não adianta comer escondido. É fundamental ainda trabalhar a textura dos alimentos e, sobretudo, evoluir a consistência para incentivar o desenvolvimento da criança, começando com os alimentos amassadinhos e evoluindo conforme a tolerância.
É importante que os alimentos sejam oferecidos separados, para que ela identifique o sabor de cada um. Pois quando fazemos uma papa com tudo misturado, por exemplo, ela não vai conseguir entender o gosto que cada alimento tem.
Qual o papel do nutricionista?
Primeiramente, o acompanhamento com um nutricionista vai ajudar muito, mas existe também um material gratuito do Ministério da Saúde que fornece informações valiosas para essa fase de introdução alimentar. “O Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos” traz recomendações e informações sobre como alimentar a criança para promover seu crescimento e desenvolvimento e favorecer sua saúde.
Nele estão reunidas as dúvidas mais comuns, explicações fundamentadas e orientações práticas sobre a amamentação e a alimentação no começo da vida (você pode baixar o guia no site oficial do Ministério da Saúde do Governo Federal.)
Poderia deixar um conselho final?
O livro de comida da criança é uma página em branco. Construa, portanto, novas referências para ela. Se achar que as suas não são tão boas, então procure uma nutricionista para você. A criança vai se beneficiar disso. Afinal, não dá para ensinar o que a gente não sabe, né?
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