Por Maria Helena Esteban @mariahelenaesteban. Copyright Fato Editorial.

Sua família não está pronta para estrelar um belo “comercial de tevê”? Na realidade, cada refeição tem sido um exercício de paciência com as crianças? Conhecer um pouquinho sobre alimentação pode ser a chave para repensar o cardápio e criar novos e bons hábitos infantis.

Alimentação, um desafio atual

“Na colherada de comida que uma mãe ou um pai dá a um bebê, a comida é amor. No banquete que uma família prepara para a maioridade de uma criança, a comida é comunhão. Nos gritos e gargalhadas de adolescentes compartilhando lanches depois da escola, a comida é alegria. E para todas as crianças e todos os adolescentes de todos os lugares, a comida é vida – um direito fundamental e a base da nutrição saudável e de um desenvolvimento físico e mental sólido.”

Este texto, assinado por Henrietta Fore, Diretora Executiva do UNICEF, está em “Crianças, Alimentação e Nutrição, Crescendo Saudável em um Mundo em Transformação”.

No banquete que uma família prepara para a maioridade de uma criança, a comida é comunhão.

O relatório de 2019 mostra que você não está só na empreitada. A boa alimentação na infância é um assunto que preocupa o mundo. Além da desnutrição, gestores públicos e pais têm que lidar com riscos modernos, como a obesidade infantil. São desafios de nosso século que vê crescer a oferta de alimentos ricos em calorias e pobres em nutrientes (se este assunto é de seu interesse, vale baixar o relatório no site oficial da UNICEF Brasil).

“Crianças, Alimentação e Nutrição, Crescendo Saudável em um Mundo em Transformação”

O prato da criança forma o adulto

“A criança e o adolescente passam por uma fase de crescimento onde as células que acumulam gordura (os adipócitos) se multiplicam. Por isso, a alimentação inadequada e o ganho de peso nessas fases da vida trazem consequências para a vida adulta. Essa criança e adolescente que ganha muito peso provavelmente será um adulto com mais predisposição à obesidade”, avalia Ronimara Santos, nutricionista, mestre em Nutrição e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ.

Leia a entrevista completa com Ronimara Santos.

Portanto, a construção de bons hábitos deve ter início logo que os pequenos desmamam. A complementação do leite materno com outros alimentos começa a partir dos seis meses de vida. E quase nunca a passagem da mamadeira para o prato é tranquila ¬ afinal, trata-se de um novo aprendizado (até para os pais, não é mesmo?).

A construção de bons hábitos deve ter início logo que os pequenos desmamam.

Cada ser humaninho apresentará características de personalidade que, provavelmente, também se farão notar à mesa. Mas, apesar de a sabedoria popular ter consagrado que “gosto não se discute”, é possível, sim, construir boa parte do paladar.

Ronimara destaca três pontos para se ter atenção nesse momento de vida tão importante:

Os pequenos imitam os chefs

Uma das recomendações básicas, na descoberta da boa alimentação, é deixar que as crianças façam escolhas.

“Incentivar a autonomia da criança, deixando que, quando ela consiga, faça parte da escolha dos alimentos entre opções saudáveis oferecidas, que ela experimente o mesmo alimento em diferentes texturas; que tente comer sozinha; e principalmente, que coma a mesma comida da família. É muito comum que a casa coma mal, mas faça a comida da criança separada. Logo, logo, ela vai perceber e vai querer aquilo que os pais estão comendo, não adianta comer escondido”, ensina Ronimara.

É muito comum que a casa coma mal, mas faça a comida da criança separada. Logo, logo, ela vai perceber e vai querer aquilo que os pais estão comendo.

Ronimara Santos, nutricionista

As dicas do cozinheiro

Quem comprova que o clima da casa faz o apetite da criança é Erik Nako. O chef de cozinha e empreendedor (à frente de das casas Prima Osteria, Verso Restaurante, Maria e o Boi, Koba Izakaya e Pabu Izakaya) é pai do pequeno Rocco, que completou um ano. O menino chama a atenção de quem o vê comer. E a entusiasmada dedicação do pai parece ser um dos motivos da alegria infantil nas refeições. “Rocco come especiarias, pimenta-do-reino, cogumelos, ovo inteiro, camarão… tudo que colocar na frente”, relata o chef.

Normalmente, combino sempre cinco elementos e, também, alterno muito os processos e as texturas.

Chef Erik Nako. Crédito: Tomás Rangel.

“Normalmente, combino sempre cinco elementos e, também, alterno muito os processos e as texturas. Por exemplo, nunca coloco tudo cozido. Alterno: vapor, assado, grelhado, cozido, ensopado, cru. Desde que senti que era possível, evitei fazer purê de tudo. Dou bastante alimento inteiro, em cubos, pra ele pegar com a mão”, conta Erik, que faz uma lista de como distribui os grupos de alimentos em cada refeição.

Então, inspire-se: “Eu sigo a recomendação no que toca a variedade de grupos em cada refeição”, exemplifica:

  • um carboidrato (alternando tubérculos, arroz, pirões, milho, etc.);
  • uma leguminosa (alternando feijões branco, carioca, preto, azuki, fradinho, grão-de-bico, lentilha, ervilha);
  • dois legumes (abóbora, cenoura, cebola, chuchu, beterraba, berinjela, abobrinha);
  • uma proteína animal (frango, carne, ovo; incluindo miúdos fígados, rabada, língua, moela e queijos) ou vegetal (cogumelos, tofu)
Variedade nas refeições por Erik Nako. Imagem: Zona Sul.

A pedagogia na cozinha

A pedagoga Fabiana Figueiredo há 13 anos abriu o Ateliê das Ideias, um lugar onde panelas, fogões e utensílios de cozinha substituem lápis, papel e quadro negro. Objetivo? Despertar a curiosidade e ampliar o conhecimento em relação à alimentação, aos ingredientes e às receitas.

“Quando a criança brinca ela usa todos os sentidos para aprender o mundo: o tato, o olfato, o paladar, a visão… Ela coloca naquele objeto, seja ele um brinquedo, seja ele uma comida, todas as suas possibilidades de aprendizado. Quando o adulto permite que isso aconteça, sem limitação de que a criança irá se sujar ou de acabar jogando comida fora, a criança tem a possibilidade de conhecer o mundo”, avalia Fabiana.

Ateliê das Ideias. Crédito: Constança Sabença / Cora Food Agency.

“Minha dica é jamais desistir de oferecer de diversas formas os alimentos, até você entender se de fato a criança não gosta.  E muitas vezes pode ser um oferecimento disfarçado: você coloca o alimento na mesa, sem falar muito dele, sem insistir, e assim você dá a oportunidade da criança ter vontade de experimentar. Acho que isso tira muito a angústia dos pais”, complementa a pedagoga que dá outras orientações em uma entrevista bem completa (Crianças ajudam a família a comer melhor).  

Novos hábitos para todas as idades

À medida que o tempo passa é importante reforçar e construir bons hábitos, mesmo quando as crianças já são maiorzinhas.

“Uma boa refeição à mesa e em família, com a comida igual à comida da casa, com base em alimentos frescos ou minimamente processados. Cultivar hábitos corretos como comer com atenção à comida (e não na tevê ou tablet) e respeitar a saciedade da criança. Nessa fase é importante envolver a criança no preparo, escolha e na montagem do seu próprio prato, incentivando a autonomia”, reforça Ronimara.

É importante envolver a criança no preparo, escolha e na montagem do seu próprio prato, incentivando a autonomia.

Note que comer com a família, pelo menos uma vez ao dia, está entre os truques listados pela nutricionista para incentivar novos hábitos infantis. Outra boa ideia é envolver as crianças em tarefas como compras de supermercado, pedindo que encontrem diferentes legumes; preparos mais fáceis de saladas ou bowls de iogurtes com frutas; e arrumação da mesa.

“Cozinhar com os pequenos costuma motivá-los a provar novos sabores”, lembra a nutricionista.

Então, que tal descobrir junto com eles uma receita de brigadeiro pra lá de saudável?  A dica de Ronimara Santos é o Brigadeiro de Tâmara, uma fruta cheia de benefícios.


Receita: Brigadeiro de tâmara 

Brigadeiro de tâmara. Crédito: Filico.

Confira esta receita criada por Ronimara Santos, nutricionista:

Ingredientes (para 9 unidades de 12g) 

  • 1 xícara (chá) cheia de tâmaras sem caroço 
  • 1 colher (sopa) cheia de cacau (100%) em pó 
  • 1 colher (sopa) de coco ralado sem açúcar

Preparo

Bata as tâmaras no processador até obter uma massa homogênea. Retire do processador e, com as mãos, misture com o cacau e o coco, fazendo bolinhas. Para finalizar, polvilhe com cacau ou coco por cima, para dar a finalização de sua preferência.

Leia mais sobre os benefícios das tâmaras neste artigo.