Por Maria Helena Esteban @mariahelenaesteban | Foto Filico @fredericodesouza.filico | Copyright Fato Editorial
Ele já saiu da maternidade com nome que remete a sanduíche famoso. Mas, seu Mc tem mais a ver com preparo artesanal do que industrial. Jimmy McMannis se tornou um nome popularmente conhecido entre quem ama carne e hambúrgueres. E figura disputada, Brasil afora, em eventos em torno da brasa.
O começo de @jimmy.ogro na gastronomia foi apostando em preparos descomplicados, em canal no Youtube, lançado em parceria com amigos. E o apelido de ogro, uma brincadeira de adolescência, acabou se transformando em marca.
Hoje, com mais de 200 mil seguidores no Instagram, Jimmy atua na tevê ao lado de Ana Maria Braga (@anamaria16), no programa Mais Você, da Globo. E sua marca está em linhas de faca e cerveja, enquanto ele supervisiona a Ogro Steaks (@ogro.steaks), uma casa despojada, em Botafogo, dedicada a carnes e hambúrgueres de excelência.
Com seus dois metros de altura e simpatia cativante, Jimmy nos recebeu para uma conversa, onde fala da importância das mulheres da família para sua trajetória e de sua paixão pelo fogo.
Como nasceu o apelido de ogro?
Era chamado assim por amigos na adolescência, uma fase onde não respondia muito bem a alguns estímulos. Mas, com a idade veio a tranquilidade e a educação que Dona Magaly me deu se fez presente. Com a ideia do canal no Youtube, usar o termo ogro foi pela ironia, pela contradição com o personagem da mitologia, que nunca tocou numa panela e, se conseguisse provar que um ogro pode cozinhar, então, qualquer pessoa também pode.
O termo ogro, na gastronomia, tem até uma conotação positiva. Como você define um ogro?
Pois é, era muito raro, mas vejo com orgulho o surgimento de uma grande quantidade de perfis e pessoas se chamando de ogros, depois do surgimento do Ogrostronomia, que criei junto com meus sócios Boris, Guto e Bethinho, com o Neves convidado a partir da segunda temporada.
O ogro que queremos representar é alguém que não tem preocupação com muita coisa além de qualidade e sabor da comida que está fazendo, de alimentar as pessoas que ama e cuidar dos seus.
A gastronomia como profissão não foi uma decisão de primeira hora. O que fez você assumir o fogo como meio de vida?
Eu sou designer, publicitário e jornalista por formação. Trabalhei anos no mercado publicitário e criativo, me vendo completo em 2012, tendo feito tudo que queria nessa área. Sempre cozinhei, começando com a minha mãe aos oito anos de idade. E com o canal do Youtube crescendo, a mudança de carreira acabou sendo um processo orgânico e natural. E a vida, incluindo nisso um monte de gente, me ajudou muito nessa mudança.
O fogo também veio naturalmente porque, além de provar que qualquer um pode cozinhar, também quero provar que se pode cozinhar em qualquer lugar, e o fogo foi o nosso primeiro “fogão”, afinal.
“…além de provar que qualquer um pode cozinhar, também quero provar que se pode cozinhar em qualquer lugar.”
Jimmy Ogro
Seu início na gastronomia foi apostando em comidas descomplicadas, em um canal do Youtube. Foi ali que começou um caminho de sucesso com o público? Por quê?
Uma coisa muito evidente ao olhar para trás, três a cinco gerações, é que a humanidade começou a trabalhar muito mais e a se afastar gradualmente do ato de cozinhar. Podemos, inclusive, somar a industrialização crescente do alimento, a tecnologia e o apego das pessoas ao uso dessa tecnologia. Com isso, muito do artesanal deixou de fazer parte do dia-a-dia e a gastronomia sofreu.
As pessoas sempre, e cada vez mais, se encantaram com os processos e preparos, as cores, os sabores, mas esqueceram como se faz. Existe uma relação natural de fascínio e atração pelo alimento e pelo fogo e, se você faz isso de maneira simples, as pessoas criam empatia.
Você está de volta com um quadro fixo no programa da Ana Maria Braga, na TV Globo. Quais são suas pretensões televisivas?
Estou de volta e muito feliz. Conseguimos chegar em um formato remoto que funciona bem em quadro fixo e contínuo. Durante a pandemia comprei equipamento e montei um miniestúdio em casa, o que ajudou bastante nesse retorno. Eu gosto muito de trabalhar no Mais Você. Depois de nove anos no programa, Ana, Tom (Louro), Vivi (nossa diretora), Gustavo (meu diretor) e toda a equipe, viraram minha segunda família.
Jimmy Ogro de volta com um quadro fixo no programa da Ana Maria Braga, na TV Globo.
Foto: divulgação
Gosto muito de participar como convidado de outros programas, como já fiz no GNT e em vários, culminando com uma temporada inteira no Perto do Fogo, junto com o Felipe Bronze. Claro que sempre tem, lá no fundo, uma vontade de um programa próprio, coproduzido e codirigido por mim, mas sou sincero em dizer que deixo que a vida me traga isso organicamente, como foi tudo pra mim até agora. Seguirei trabalhando e estudando para merecer o que já ganhei.
Entre suas frentes de trabalho, está a operação Ogro Steaks. Por enquanto é um ponto em Botafogo. Quais são as perspectivas da casa?
Estamos até que bem lá, considerando o cenário atual. Temos ideias de expandir com operações de delivery em novos bairros, para conseguir levar os pratos e sanduíches para o Rio todo. E, quem sabe, para outros estados em breve? Não penso em franquia, mas crescimento lento e consistente, sempre cuidando de preservar a qualidade e cuidado com o que fazemos.
Não apenas no Rio, mas Brasil afora, a gente vê uma redescoberta e até certa pesquisa e reinvenção no uso de preparos diretos no fogo e na brasa. Como é sua percepção sobre esse momento?
Exatamente. Acho incrível, isso. Sempre dissemos que, de 200 milhões de brasileiros, 90 milhões são churrasqueiros. Vejo com naturalidade o fogo e a brasa servirem de meio para preparo de muito mais, além da carne. Precisamos lembrar, como disse lá no começo, que o fogo foi nosso primeiro “fogão” e que, esse mesmo fogo, é responsável pela maior mudança histórica no desenvolvimento do homem como conhecemos hoje, por uma pá de motivos. Existe, portanto, um inegável sentimento de pertencimento quando se fala “ao redor do fogo”. Foi nesse círculo que nos construímos e, aparentemente, voltar para ele é natural.
“Sempre dissemos que, de 200 milhões de brasileiros, 90 milhões são churrasqueiros.”
Foto: Fernando Mafra
Ao mesmo tempo em que há um inegável movimento por menor consumo de carne, vemos, em outra ponta, uma busca por carnes especiais e valorização da experiência de consumo. Temos aí a perspectiva de uma “nova mesa”? Qual a sua avaliação?
É importante entender que a vida precisa de equilíbrio e que tudo que está ao nosso redor merece e deve ser tratado com respeito. E, graças a vários movimentos, isso começou a acontecer, batalhar pela criação responsável e processamento humanizado de animais, pelo cultivo orgânico, pela conscientização com base em sustentabilidade e cuidado com o planeta que habitamos. Com isso tudo aliado à colaboração mundial pela globalização, surge qualidade e um leque mais interessante de opções de produtos, o que aumenta infinitamente as possibilidades criativas na gastronomia.
Há algum tipo de alimento que não possa ser preparado na brasa, ou até churrasco de melancia fica bom?
Participo de vários projetos que têm o fogo como elemento central e já vi muita coisa incrível e surpreendente ser feita no fogo. Tenho a sensação que o calor intenso, primal, do fogo, quando bem cuidado e manipulado, transforma todo alimento em uma versão mais interessante dele mesmo. Talvez o tal churrasco de melancia, pelo menos para mim, seja uma das prováveis exceções.
Tenho a sensação que o calor intenso, primal, do fogo, quando bem cuidado e manipulado, transforma todo alimento em uma versão mais interessante dele mesmo.
Jimmy Ogro
Pode deixar uma dica: quem são as personalidades ligadas a cozinha, no Brasil e no mundo, que você gosta e recomendaria seguir nas mídias?
Não só pela gastronomia, mas pela dedicação em mudar o status quo, @gastromotiva, @chefgugarocha, @massimobottura, @cheflucascorazza e @marcoslivi.