Garrafa com fundo mais côncavo é sinônimo de vinho melhor? Por que algumas garrafas são de vidro verde-escuro? A rolha faz diferença no armazenamento do vinho? Essas e outras dúvidas sobre a anatomia das garrafas de vinho costumam permear o imaginário dos enófilos, mas muitas das respostas popularmente compartilhadas são, sem dúvida, mitos. Para esclarecer os detalhes sobre as garrafas de vinhos, faça um brinde ao conhecimento com o Expert Claudio Pinto.
Aqui você vai ver:
Nem sempre foram garrafas…
A função primária de uma garrafa é servir de recipiente de transporte e armazenamento do precioso líquido. Mas por que existem diversos tipos e tamanhos? Para responder a esta pergunta vamos voltar no tempo.
Primeiramente, é importante ressaltar que o vinho é anterior às suas garrafas. Na época do Grande Egito e seus faraós, o vinho já era produzido, mesmo que de formas diferentes dos dias atuais, e armazenado em ânforas de barro. Naquele tempo, dado a rusticidade do processo de produção, adicionava-se água ao vinho para torná-lo mais palatável.

Antes das garrafas de vidro e dos tonéis de madeira, as ânforas de barro cumpriam o papel de armazenamento e transporte.
Com o passar dos séculos e a evolução das tecnologias e modos de produção, surgiram os primeiros tonéis e barris feitos de madeira, que além de possuir uma maior capacidade de armazenamento, permitiam o amadurecimento do vinho, agregando aromas e melhorando sua qualidade.
A evolução continuou e surgiram as garrafas de vidro. Nesse momento, o vinho começou a ganhar uma escala global, pois as garrafas passaram a servir não só para guardar, mas também para facilitar o transporte e a comercialização da bebida entre os países. Mas foi somente com a Revolução Industrial que foi possível a produção de garrafas em massa, assim como de rolhas, resultando em maior resistência e uniformidade.
Com a rápida disseminação da bebida mundo afora, novos tamanhos e formatos surgiram e continuam surgindo e, atualmente, há garrafas que vão desde uma dose de 187mL até grandes volumes de 18 litros.



Cores, formatos e tamanhos das garrafas
As garrafas de vinhos variam nos seus tamanhos, mas também nas cores e nos formatos.
Formatos
Sobre os formatos de garrafas, elas podem ter diferenciação devido à sua região produtora. Podemos encontrar garrafas com formatos distintos, seja por referência à região (Bordeaux, Borgonha, Alsácia etc.) ou à variedade de uva (Pinot Noir, Gewurztraminer, Primitivo etc.). Cada tipo de garrafa, assim como as taças dos vinhos, possui um nome que facilita sua identificação. Entre as mais conhecidas, estão:
- Bordeaux: bem cilíndrica com ombros altos e definidos, geralmente usadas para tintos encorpados como Cabernet Sauvignon e Merlot.
- Borgonha: mais arredondada, com ombros inclinados e suaves. Comum em vinhos como Pinot Noir e Chardonnay.
- Champagne: semelhante à garrafa de Borgonha, mas mais espessa para suportar a pressão do gás dos espumantes.
- Rhin: alta e esguia, com ombros discretos usadas para vinhos brancos como o Riesling.
- Jerez: pequena e robusta, usada para vinhos fortificados como Madeira ou Jerez.

Para falar de características das garrafas, é importante saber que cada parte de uma garrafa possui também um nome. Anote a aula de anatomia:
- Boca: abertura da garrafa por onde o vinho é servido.
- Pescoço: a parte estreita logo abaixo da boca.
- Ombro: a parte mais ampla logo abaixo do pescoço, podendo ser mais ou menos inclinado conforme o formato.
- Corpo: a parte principal da garrafa, onde o vinho é armazenado.
- Base ou fundo: geralmente mais côncavo, com um pequeno recuo chamado “punt” ou “bojo”.

Cor do vidro
A cor do vidro é importante para a conservação: cores verdes e marrons permitem proteger da luz e evitar oxidação (assim como acontece com os azeites), enquanto a garrafa transparente serve para realçar a bela cor do vinho, especialmente os rosês. Geralmente, vinhos brancos e rosês são feitos para serem consumidos jovens, sem necessidade de longo envelhecimento, como alguns tintos, que acabam sofrendo oxidação em contato com a luz ultravioleta.

Assim como acontece com os azeites, o vidro escuro protege o líquido da oxidação.
Já o tamanho da garrafa influencia diretamente no tempo de guarda do vinho. Sendo assim, quanto maior a garrafa, mais tempo o vinho poderá ser guardado.
O fundo das garrafas: mais côncavo é melhor?
Outro ponto importante na garrafa de vinho é o seu fundo, chamado “punt” ou “bojo”. Muitos pensam que as garrafas que possuem um fundo côncavo são melhores que as que não o tem. Isto não é verdade.
O fundo côncavo serve bem para vinhos de guarda, que geralmente acumulam borras (sedimentos naturais) no fundo da garrafa, e quando as mesmas são agrupadas horizontalmente, o fundo côncavo permite um encaixe perfeito, assegurando um melhor armazenamento nas adegas.
Vinhos de guarda são vinhos produzidos para envelhecer propositalmente e terem suas qualidades aprimoradas com o tempo.
No caso dos vinhos espumantes, esta concavidade é fundamental, para distribuir de forma homogênea a pressão interna na garrafa para que a mesma não exploda. A pressão interna das garrafas de espumante é maior devido ao dióxido de carbono (CO₂) gerado durante a fermentação, que forma as borbulhas características, denominadas perlage.
Por fim, com a questão da sustentabilidade e os altos custos de transporte e da matéria-prima vidro, torna-se cada vez mais comum a fabricação de garrafas mais leves e com pouca ou nenhuma concavidade, o que, a princípio, não significa que se trata de um vinho de menor qualidade. Outras formas de armazenar os vinhos também são adotadas mundo afora, como os vinhos em lata e bag-in-box.



Rolhas: tipos e diferenças
A rolha de cortiça costuma ser a preferida por toda a sua tradicionalidade. Mas uma rolha diferente não quer dizer que o vinho seja de pior qualidade. Aliás, a rolha que a maioria das pessoas conhece não é feita com a cortiça de verdade.
Originalmente a rolha é feita de uma árvore que se chama Sobreiro, da qual se retira a casca que servirá como matéria-prima. O ponto é que essa casca leva em torno de 5 anos para chegar na espessura ideal para confecção de uma rolha natural, além do fato do Sobreiro existir basicamente em Portugal, Espanha e no norte da África.

Sobreiro (Quercus Suber): a árvore que dá origem às rolhas de cortiça tradicionais.
Com o crescente consumo de vinho, os fabricantes começaram a buscar outros meios de lacrarem as garrafas. Surgem então as rolhas de cortiça, feitas das sobras da casca do Sobreiro trituradas e aglomeradas; rolhas sintéticas, feitas de resinas tipo PVC ou de materiais orgânicos como fibra de bambu; rolhas de vidro, elegantes, porém caras; e as tampas de rosca de metal, chamadas screw caps, que são como tampas de garrafas de azeite.



Atualmente as rolhas naturais (inteiras) são caras e geralmente estão presentes em vinhos mais nobres e de guarda, que precisam ter uma micro-oxigenação através da rolha. Os vinhos mais cotidianos, sem a necessidade de guarda, recebem geralmente as rolhas de cortiça aglomerada, que proporcionam uma boa vedação.
As rolhas sintéticas, embora não sendo elegantes, cumprem bem o papel da vedação da garrafa e as tampas de rosca, que vedam muito bem, são práticas para abrir, porém, não proporcionam o charmoso ritual de “sacar uma rolha”. Diferenças à parte, o que importa é manter o vinho em seu perfeito estado, e isto, estas são capazes.
Portanto, a melhor maneira de descobrir um vinho é bebendo-o!
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