Todo mundo ama beber um vinho, seja para celebrar um momento especial, para curtir um hapy hour e até mesmo para acompanhar uma tábua de queijos e frios. Mas na hora de escolher o rótulo ideal, muita gente fica presa a regras sem sequer saber a origem delas. Todas essas fake news podem tirar a oportunidade de um bom rótulo de vinho entrar na sua adega. Por isso, o Expert em vinhos Dionísio Chaves vai desmistificar 10 heresias sobre os vinhos para que você possa apreciar cada gole com mais conhecimento e poder de escolha.

Dionísio Chaves: Expert em vinhos Zona Sul.

Desvendando os Mitos

Hora da verdade! Nada de muitas regras ou explicações longas e teóricas demais. O nosso “tira-dúvidas” é um bate-papo rápido e objetivo com quem realmente entende do assunto. Separe papel, caneta e sua taça, claro!

Escolha um mito para desmascarar:

  1. Quanto mais velho o vinho, melhor
  2. Os vinhos mais caros são os melhores
  3. Tinto pro frio. Rosé e branco pro calor.
  4. Rosés são feitos com sobra de tintos
  5. O fundo da garrafa mostra a qualidade do vinho
  6. Champagne é sinônimo de espumante
  7. Reserva e Reservado são a mesma coisa
  8. A rolha mostra a qualidade do vinho
  9. Vinhos feitos de blend de uvas são piores
  10. Vinho doce, leve e suave. É tudo igual.

1 – Quanto mais velho o vinho, melhor

Essa definição é coisa do passado. Isso porque antigamente não existiam tantas técnicas de produção quanto hoje em dia, por isso eles precisavam ficar guardados mais tempo para ficarem potáveis.

Atualmente, o enólogo consegue fazer um vinho que pode ficar pronto no mesmo ano da colheita, um ano ou dois após a safra, dependendo do tipo de vinho que ele queira produzir. Da mesma forma, ele pode produzir vinhos mais longevos, que podem envelhecer 30 anos ou mais. E ainda existem os mais frutados, leves e frescos que podem ser consumidos no mesmo ano da safra. Tudo depende exclusivamente do que o enólogo deseja obter como resultado.

2 – Os vinhos mais caros são os melhores

Bom , se o vinho em questão caro, existe uma certa obrigação do produtor em oferecer algum diferencial que justifique seu preço. Mas a definição de melhor é muito subjetiva, porque cada um tem a sua preferência e seu paladar.

A definição de “melhor vinho” é muito subjetiva e depende do paladar e preferência de cada indivíduo.

Entretanto, existem vinhos que, por conta de alguma safra especial ou uma pontuação importante, obtiveram um valor agregado no mercado. Mas pode acontecer do mesmo vinho continuar com o preço alto mesmo após a sazonalidade de uma safra especial. Ou seja, o consumidor acaba “pagando pela marca”, mesmo quando não existe mais aquela exclusividade ocasional.

3 – Tinto pro frio. Rosé e branco pro calor.

Essa definição não constitui um mito, mas também não é uma regra. Tal distinção é uma escolha natural, mas só pode ousar quem tem conhecimento de causa. Por isso é bom saber que existem tintos para o verão e rosés e brancos mais encorpados.

No calor, você pode optar por um tinto mais leve e fresco que não tenha passagem em madeira. E no frio, por que não um vinho rosé mais estruturado que possa ser servido em uma temperatura mais alta que o normal? Brancos fermentados em barricas de carvalho também costumam ser servidos em temperatura mais alta e são propícios para o inverno.

Prova de que os tintos podem ser perfeitos no verão é a tendência dos vinhos em lata: práticos para levar para a praia, para a piscina e até no piquenique. Além dos vinhos, a novidade ready-to-drink já chegou no mundo das bebidas famosas, como o gin tônica, vodka e hard seltzer.

4 – Rosés são feitos com sobra de tintos

Mentira. Vinhos rosés são feitos a partir das uvas pretas, cujo no processo de maceração (depois da prensagem da uva) o contato com a casca dura poucas horas. Enquanto na produção do tinto a maceração leva entre 8 e 15 dias, na do rosé dura no máximo 24 horas, dependendo da tonalidade e do tipo de aroma que o produtor queira obter.

Se você ama os vinhos rosados, pode aprender mais sobre o toque especial do rosé francês e conhecer rótulos 100% nacionais que ganharam destaque no mundo da vitivinicultura.

5 – O fundo da garrafa mostra a qualidade do vinho

Não, isso é puro mito. Os grandes vinhos de Bordeaux premiados são garrafas finas, simples e achatadas na base. Hoje em dia o mercado trabalha muito a questão do Design de embalagens, e algumas garrafas bem elaboradas podem dar a impressão de um vinho melhor. Entretanto, pode ser puro marketing.

6 – Champagne é sinônimo de espumante

O champanhe é um espumante “abençoado por Deus”, por conta do terroir específico da região de Champagne na França, que dá origem a bebidas de altíssima qualidade. Mas não existe somente essa diferença no universo dos espumantes e você pode conhecer mais para comprar e beber melhor.

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Todo champagne é espumante, mas nem todo espumante é champagne.

Foto: Rodrigo Azevedo / Zona Sul.

7 – Reserva e Reservado são a mesma coisa

A definição de “Reservado” foi uma bela jogada de marketing, principalmente dos produtores chilenos. Ele é o vinho mais básico da safra, enquanto o Reserva é um vinho mais elaborado, que tem uma qualidade superior e geralmente passa em barricas de carvalho.

8 – A rolha mostra a qualidade do vinho

De certa forma isso é real, pois o tamanho e qualidade da rolha mostram que o produtor teve um investimento a mais na produção e se preocupou com a melhor forma de armazená-lo. Vinhos mais complexos vão receber rolhas maiores e melhores.

A escolha do tipo de rolha também mostra a preocupação do produtor com o armazenamento do vinho.

Contudo, você com certeza já se deparou com rolhas sintéticas, e ficou na dúvida sobre a qualidade do vinho. Saiba que esses modelos alternativos possuem um papel importante no mercado do vinho atual, trazendo benefícios em relação à qualidade e custo, e vamos lhe dizer a seguir o porquê: são uniformes e muito fáceis de abrir. Conheça os diferentes tipos de rolhas e suas vantagens.

9 – Vinhos feitos de blend de uvas são piores

Não! Os blends dão complexidade aromática e gustativa ao vinho, agregando características de cada cepa.

Os grandes vinhos de Bordeaux, por exemplo, raramente são monovarietais e geralmente são blends de cepas como Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, entre outras, em menor proporção. Outros exemplos de blends de alta qualidade são alguns super toscanos e rótulos sulamericanos como o conhecidíssimo Almaviva e chileno premiadao Seña.

Um blend é quando o enólogo pinta um quadro. Ele é o artista, fazendo combinações de aromas e sabores de cada variedade para encontrar o perfeito equilíbrio.

10 – Vinho doce, leve e suave. É tudo igual.

Não. Essas são classificações completamente diferentes.

Vinho leve é um vinho seco de pouca estrutura para consumo imediato, como brancos e rosés, e vinhos mais frutados como Gamay e Pinot Noir.

Já o vinho classificado como suave tem uma quantidade a mais de açúcar residual além do vinho seco. E o vinho doce apresenta um açúcar residual ainda mais alto, tanto os de qualidade baixa feitos com uvas não viníferas (garrafões), quanto os doces fortificados como o Madeira, Marsala, Jerez e do Porto.

Existem também os doces feitos com colheita tardia, quando a uva resseca e concentra mais açúcar, para serem utilizado em sobremesas e acompanhando queijos azuis, os melhores queijos para encerrar uma deliciosa recepção com queijos e vinhos.

Recebendo os amigos com queijos por André Guedes.

Por fim, há ainda os vinhos doces elaborados com uvas botritizadas, em que as uvas sofrem ação de um fungo (Botrytis cinerea) que desidratam a uva, eliminando a água e concentrando açúcar.

“Um grande exemplo de vinhos doces botritizados são os Sauternes, que são os melhores vinhos doces do mundo, na minha opinião.”

Expert Dionísio Chaves

Para ficar por dentro do mundo dos vinhos

Se você gostou de desvendar os mitos dos vinhos que há muito tempo atrapalham sua escolha de uma boa garrafa, aproveite para se aprofundar ainda mais nesse delicioso universo. Confira a seleção de artigos para saber fazer sua compra com conhecimento e segurança: