A gastronomia da Bahia é única — uma das expressões mais vibrantes da cultura brasileira. Nascida do encontro entre matrizes africanas, indígenas e ibéricas, ela se distingue pelo perfume do azeite de dendê, pelo leite de coco, pelas pimentas, pelo acarajé e por muitos outros pratos que tornam a comida baiana uma verdadeira identidade cultural. Se você aprecia um bom tempero baiano, conheça mais sobre as receitas dignas de aplausos — e de repetir o prato!

Aqui você vai ver:

A culinária como representação cultural

A culinária baiana não é somente comida — é história, identidade, território e memória afetiva. Ela nasceu do encontro de três matrizes fortes: indígena, africana e portuguesa. Cada uma deixou marcas profundas, criando um patrimônio gastronômico que virou sinônimo de Brasil no mundo.

“A Bahia tem mais de quatrocentas cidades, e em cada uma delas há um jeito próprio de cozinhar e de contar história pela comida. Cada prato é uma forma de resistência, um modo de afirmar que a identidade segue firme, mesmo com o passar do tempo e as mudanças do mundo.”

Tarsila Lima, Chef Zona Sul

Além dos encontros de culturas, crenças e histórias, a culinária da Bahia reflete sua geografia diversa e rica em contrastes: no litoral, os protagonistas são os peixes, frutos-do-mar e o coco fresco, enquanto no interior predominam a carne de sol, o milho e o feijão-verde.

“Sou filho de uma baiana raiz e me lembro de provar as comidas que minha mãe preparava na casa dos patrões. Dali surgiu a minha vontade de trabalhar com gastronomia.”

Marcelo Luz, Chef Zona Sul

A comida da Bahia é cheia de história e mistura boa. Cada prato tem um pouco dos povos que passaram por lá — indígenas, africanos e portugueses — e isso aparece nos temperos, nas receitas e até nos modos de preparo. É uma culinária com personalidade, que abraça quem prova e conta muita coisa sobre o jeito baiano de viver. Conheça um pouco sobre as influências culturais em forma de sabores.

As raízes africanas

A herança africana é o elemento mais reconhecível da culinária da Bahia. Povos vindos das regiões do Golfo do Benim, Angola e Congo trouxeram saberes culinários, técnicas, temperos, modos de preparo e rituais religiosos. Entre os ingredientes herdados estão o dendê, o coco, a pimenta — sobretudo, a malagueta e a pimenta-de-cheiro, quiabo e maxixe — e, por fim, as técnicas de preparo, como o pilão e a fritura em imersão.

Povos iorubás, jejes e bantos trouxeram técnicas culinárias, temperos e ingredientes que marcaram para sempre o sabor da culinária local. Pratos como acarajé, moqueca, vatapá, bobó e caruru carregam simbolismos e histórias ligadas à fé e ancestralidade.

Aproveite para aprender receitas da Bahia com o sabor da origem africana:

Influências indígenas

Muito antes da chegada dos colonizadores, povos indígenas já cultivavam e transformavam a mandioca em alimentos que estruturam até hoje a mesa baiana. Beiju, tapioca, pirões e farinhas diversas são manifestações vivas dessa tradição.

A alimentação dos povos originários era marcada pela utilização da mandioca como ingrediente, com receitas como beiju, tapioca, pirão, paçoca e farinhas diversas.

Aproveite para aprender receitas com mandioca e derivados:

Contribuição portuguesa: doces, técnicas e tradições

Já os portugueses trouxeram açúcar em abundância, técnicas de cozimento e receitas conventuais reinterpretadas ao longo dos séculos. Dessa fusão surgiram doces como quindim, cocadas e bolos ricos em gemas, marcando o lado mais açucarado da Bahia.

Inspire-se com receitas de doces que têm um “pezinho” na Bahia e em Portugal:

Mais do que comida, a culinária da Bahia é identidade cultural. É a celebração de um povo, a resistência de sua ancestralidade e a continuidade de suas histórias. Cada prato conta uma narrativa que merece ser saboreada com afeto.

Receitas da Bahia

Que tal embarcar numa viagem pelos sabores da Bahia? Aprenda algumas receitas típicas com a Chef Zona Sul Tarsila Lima — baiana de nascença e carioca de coração. Essas e mais receitas fizeram parte de uma aula especial da Estação Sabores Zona Sul, um espaço dedicado a cursos, oficinas e degustações com Chefs, Experts e convidados.

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Acarajé

O acarajé é um bolinho frito de feijão-fradinho, cebola e sal, servido com recheios como camarão seco, vatapá e pimenta, e frito no tradicional azeite de dendê. Mais do que uma iguaria, ele é símbolo da cultura afro-brasileira, com raízes na religião e na resistência das mulheres negras. O ofício das baianas do acarajé é reconhecido como patrimônio cultural imaterial brasileiro.

Que tal aprender a fazer um acarajé de verdade? A chef Zona Sul Tarsila Lima ensina o passo a passo para você levar o sabor da Bahia para a sua mesa.

Em 2004, o ofício das baianas e o acarajé foram reconhecidos como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo IPHAN.

Fonte: Publicação “Ofício das Baianas do Acarajé” por IPHAN

Ingredientes

  • 500 g de feijão-fradinho
  • 1 litro de água
  • 200 g de cebola em pedaços
  • Sal a gosto
  • 300 ml de azeite de dendê
  • 50 g de camarão seco moído
  • Azeite de dendê para refogar

Modo de preparo

  1. No liquidificador, bata o feijão-fradinho cru até virar um farelo. Transfira para uma tigela, adicione água e retire as cascas que subirem à superfície. Cubra e leve à geladeira por 8 horas.
  2. Escorra a água e reserve o feijão hidratado. Bata no liquidificador o feijão com a cebola até obter uma mistura homogênea. Transfira para uma tigela, adicione sal a gosto. Bata com uma colher para aerar e aumentar o volume da massa.
  3. Fritura: com uma colher, molde bolinhos e frite no azeite de dendê quente até dourarem.
  4. Montagem: recheie os bolinhos com o camarão seco moído refogado no azeite de dendê.

Caruru

O caruru é um prato típico da culinária baiana feito com quiabo, camarão seco, azeite de dendê e uma combinação rica de temperos como cebola, alho, gengibre, castanha de caju e amendoim.

O nome caruru tem origem africana (iorubá kalalu) e também indígena (tupi kararu). Ambos os nomes se referiam a um tipo de planta utilizada como alimento. Originalmente, o prato era um refogado de ervas, mas ganhou sua forma atual com a introdução do quiabo e do azeite de dendê trazidos pelos africanos.

Cozido lentamente até atingir uma textura cremosa e encorpada, ele é servido quente e costuma acompanhar outras delícias como arroz, vatapá, acarajé ou abará.

Ingredientes

  • 120 g de castanha torrada
  • 25 g de gengibre ralado
  • 150 g de camarão seco (com casca e cabeça)
  • 1 kg de quiabo
  • 400 g de tomate
  • 300 g de cebola
  • 1 unidade de pimentão
  • Coentro a gosto
  • 3 dentes de alho
  • 200 ml de leite de coco
  • 350 ml de azeite de dendê
  • Pimenta-do-reino a gosto
  • Sal a gosto
  • 600 ml de caldo de peixe ou camarão
  • 200 g de camarão seco (sem casca, cabeça e dessalgado)

Modo de preparo

  1. Comece cortando o quiabo e picando o tomate, a cebola, o pimentão e o coentro. No liquidificador, bata o gengibre, o camarão seco com casca, o amendoim e a castanha até formar uma pasta escura conhecida como “sangue negro” e reserve.
  2. Em uma panela quente com um fio de azeite de dendê e óleo, refogue o alho e a cebola até dourar. Acrescente o pimentão e o tomate e cozinhe até secar. Adicione o quiabo picado, mexa bem e, em seguida, coloque o caldo de peixe ou camarão. Deixe reduzir um pouco, depois acrescente o leite de coco e o sangue negro, misturando bem. Cozinhe até o quiabo ficar macio e fácil de desmanchar.
  3. Finalize com o restante do azeite de dendê, tempere com coentro, sal e pimenta-do-reino a gosto, e adicione o camarão seco dessalgado. Misture bem e sirva quente.

Bolinho de estudante

O bolinho de estudante é uma delícia típica da Bahia, muito popular nas festas juninas e nos tabuleiros das baianas. Feito com tapioca, coco e açúcar, ele é crocante por fora e macio por dentro, com um sabor marcante de canela e leite de coco. Há rumores de que combina muito bem com um café Me Bebe passado na hora…

Ingredientes para a massa

  • 500 g de tapioca quebrada (ou outra de preferência)
  • 500 ml de leite de coco fresco
  • 500 ml de leite
  • 100 g de coco fresco ralado
  • 150 g de açúcar
  • Sal a gosto

Ingredientes para o empanamento e fritura

  • Açúcar cristal
  • Coco ralado industrial
  • Canela em pó
  • Óleo ou gordura para fritura

Modo de preparo

  1. Misture a tapioca, o açúcar, o coco fresco ralado e uma pitada de sal. Aqueça levemente o leite de coco e adicione à mistura, mexendo bem. Deixe descansar por pelo menos 30 minutos para hidratar. Modele os bolinhos no formato desejado.
  2. Empane os bolinhos com açúcar cristal, coco ralado industrial e canela em pó. Frite em óleo ou gordura quente até dourar. Sirva ainda quentinho!

Sabores do Brasil

O Brasil é muito mais que um país. Ele é um continente inteiro de sabores, ingredientes e descobertas. Assim como a Bahia está repleta de temperos, outras regiões são mundialmente reconhecidas pelos seus costumes culinários. Um exemplo é Minas Gerais e os queijos artesanais ou o doce de leite, o pirarucu amazonense, o açaí do nordeste, e muito mais.

Se você é apaixonado pelos sabores do Brasil, baixe os e-books preparados pelo Experts e Chefs Zona Sul gratuitamente e coloque mais sabor do país na sua mesa!